Cara ou coroa - Ellery Queen.pdf
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Ellery Queen
Cara ou coroa
Título original: Double, Double
Tradução: Maria do Carmo Cary
Tradução cedida por Publicações Europa-América, Lda.
© 1950 by Little, Brown and Company
© Publicações Europa-América, Lda.
© 2000 BIBLIOTEX, S. L. para esta edição
© 2000 ABRILCONTROLJORNAL,
por acordo com Bibliotex, S. L. para esta edição
Editora: Bárbara Palia e Carmo
Capa: Carlos Bravo
Coordenação editorial: Camilo Fernández González
com a colaboração de Maria Eduarda Vassallo Pereira
e Ignacio Vásquez Diéguez
Revisão: José Antônio Almeida
Produção gráfica: João Paulo Batlle y Font
Impressão e encadernação:
Prínter, Indústria Gráfica, S. A.
Ctra. N-II, Km. 60020 Sant Vicenç deis Horts (Barcelona)
Impresso em Espanha
Data de impressão: Outubro de 2000
Todos os direitos reservados
ISBN: 972-611-629-9
Dep. Legal: B. 44 832-2000
Tiragem: 100 000 exemplares
abril'Controljornal, uma empresa do grupo
abrilControljornalEdipresse
Largo da Lagoa, 15C5-116 Linda-a-Velha — Portugal
De venda conjunta e inseparável da revista Visão
Terça-feira, 4 de abril
Ellery pensava que não ia voltar a Wrightsville. Sentia mesmo saudades do lugar como um
homem que recorda a casa da sua infância, olhando-a através da lente filtrante de um dos olhos
sentimentais. Dizia muitas vezes que, apesar de ter nascido na cidade de Nova Iorque, Wrightsville era a
sua pátria espiritual — uma cidade de ulmeiros majestosos, pavimentos de pedras irregulares e ruazinhas
tortuosas, aninhada no centro de um vale fértil e encostada ao ventre fecundo de uma das cordilheiras
mais matriarcais da Nova Inglaterra. AH, as florestas eram sempre verdes ou do branco imaculado da
neve. Havia campos bem cultivados para regalar os olhos, respirava-se um ar revigorante e as montanhas
desdobravam-se a perder de vista. O lugar cintilava na sua memória como um diamante ou uma
esmeralda.
Mas não como um rubi, porque a cor do sangue aproximava-se demasiado da realidade.
O envelope irradiava, porém, um brilho cor de rubi.
Ellery examinou-o novamente, sem o abrir.
Era um envelope comprido de um papel azulado com pretensões a elegância, como os que se
encontram à venda em todas as tabacarias da América. Este fora comprado na secção de papelaria do
armazém da Vila Alta, tinha a certeza. Algumas portas mais à frente ficava o escritório sonolento de J. C.
Pettigrew, Compra e Venda de Propriedades, e ao lado do armazém, na direção de Upper Whistling,
ficava a casa de chá de Miss Sally, onde as senhoras da alta sociedade de Wrightsville se juntavam todos
os dias para saborear a famosa especialidade, rica em calorias, de Miss Sally, a mousse de ananás,
marshmallow e noz. O Wrightsville! Olhando para ocidente da porta do armazém, para o lado de baixo
da Rua Principal, viam-se, ao longe, as costas da estátua de bronze cheia de verdete do fundador, Jezreel
Wright, presidindo ao bebedouro para cavalos no centro da Praça circular, e mais além, no arco ocidental
da praça, o novo pavilhão do velho Hotel Hollis, onde, em alguns quartos, se conservavam ainda os
receptáculos de porcelana que a gerência fornecia, em tempos mais antigos, para as necessidades
noturnas dos hóspedes. Olhando para o lado oposto da rua, na porta ao lado da loja e de Louie Cahan,
brilhava o anúncio de néon do drugstore Paga-Pouco. Bacios de porcelana e luz florescente — era a sua
ideia de Wrightsville; e Ellery virou, impacientemente, o envelope que lhe trouxera à ideia a sua ilusão.
Não tinha remetente.
É claro que não havia de ter. As pessoas que mandavam um envelope como aquele, com a
morada escrita a lápis, em maiúsculas deliberadamente mal feitas, anunciavam, de imediato, o seu desejo
de anonimato. Uma carta anônima. Ellery sentiu-se tentado a atirá-la para a lareira.
Mas abriu-a cuidadosamente.
Continha alguns recortes de jornal presos pelo canto superior esquerdo com um clipe vulgar de
metal.
Não havia mais nada.
O recorte de cima continha o cabeçalho do Wrightsville Record, o único jornal diário de
Wrightsville, com a data: Quarta-feira, 1 de Fevereiro.
Um jornal de há dois meses, portanto. Ellery leu o artigo todo.
Noticiava a morte por ataque cardíaco de Luke MacCaby, de 74 anos de idade, residente na Rua
State, Vila Alta.
Ellery não tinha ideia do nome, mas havia uma fotografia de uma coluna representando a casa do
falecido e pareceu reconhecê-la.
Era um edifício muito grande, com um alpendre, telhados inclinados, águas-furtadas e torreões,
pintado muito carateristicamente de um amarelo sujo, à moda vitoriana; no seu tempo, fora uma casa
luxuosa, com talha de madeira e bandeiras de vitral mas, agora, parecia prestes a desmoronar-se no meio
da paisagem triste onde se erguera durante seis ou sete décadas. A Rua State, o eixo de nordeste que sai
da Praça, é a rua maís larga da cidade e, nos primeiros quarteirões, é uma rua bela e majestosa. Mas,
mais adiante, degenera. Era a zona residencial elegante de Wrightsville no fim do século antes de as
famílias principais se terem mudado para a encosta do monte. Agora, essas antigas mansões em declínio
são habitadas pela baixa classe média; algumas são atualmente pensões. Os alpendres estão a cair, a talha
partida. Os caminhos que levam até as portas das casas estão abandonados e cheios de ervas. Toda a
zona está urgentemente necessitada de obras e pinturas.
Se a casa de MacCaby era aquela que Ellery pensava, situava-se na esquina das Ruas State e
Upper Foaming e era a maior de todas, mas também a mais decadente das vizinhanças.
MacCaby, dizia o Record, era o Eremita da Cidade. Raramente saía dos seus domínios
semiarruinados, onde se dedicava a ocupações misteriosas; há muitos anos que não aparecia na Praça ou
na Rua Principal, segundo informações dos comerciantes da Vila Alta. Antigamente, MacCaby tinha fama
de avarento, e dizia-se que passava o tempo a olhar para hipotéticos montes de dinheiro e diamantes no
interior da sua caverna ancestral, à luz do gás; mas este boato, que tanto se podia basear num mito como
na realidade, parecia não ter grandes fundamentos, pois, entretanto, deixara de se falar nisso e fora
esquecido; e já há muito tempo que o Eremita da Cidade era considerado um miserável que se alimentava
a pão e água. O que também não era verdade, pois tinha um empregado, guarda, criado ou acompanhante
— ninguém sabia ao certo quais as suas funções; mas não havia dúvida de que Luke MacCaby vivia com
dificuldades, pois assim o afirmava o conhecido clínico da Vila Alta, o Dr. Sebastian Dodd (de quem
Ellery também nunca ouvira falar). O Dr. Dodd, entrevistado pelo Record confessara relutantemente que
mandara as suas contas ao velho durante muitos anos, até que “percebi que o velhote não tinha sequer o
suficiente para fazer uma vida decente, por isso deixei de o importunar”. Apesar disso, o Dr. Dodd tinha
continuado a tratar MacCaby até o dia da sua morte. O velho sofria de uma doença cardíaca crônica. O
Dr. Dodd receitava-lhe uns comprimidos para aliviar as crises.
Tanto quanto se sabia, Luke MacCaby era o último membro da sua família; a mulher morrera em
1909 e não tinha tido “descendência”, pelo que, segundo o Record, só restava dele as recordações
duvidosas do seu criado-acompanhante-guarda, Harry Toyfell. Toyfell tratava de MacCaby há quinze
anos. Era também um velho — e parece que outro dos originais da cidade, pois era conhecido pelo nome
de o Filósofo da Cidade. Frequentava o bar de Gus Olesen, na Estrada 16, na companhia de Tom
Anderson e Nicole Jacquard. Quando viu o nome de Tom Anderson, Ellery ficou mais interessado: pelo
menos, este era um velho conhecido seu, a que chamavam, em Wrightsville, com uma certa ternura, o
Bêbedo da Cidade ou o Mendigo da Cidade. Mas não conseguia lembrar-se de Nicole Jacquard. A não
ser que... Pois era! Em 40 ou 41 tinham falado a Ellery numa família de canadenses franceses da Vila
Baixa (no dialeto de Wrightsville “canucas”) de apelido Jacquard, em que os pais eram especialistas da
produção de crianças; parece que tinham falado de “outros” trigêmeos...? Se Nicole Jacquard era esse
Jacquard, o que era provável, não era exatamente um modelo de bom comportamento da Vila Baixa. Esse
Jacquard — e Ellery esperava que esse comportamento não tivesse outros motivos mais repreensíveis do
que a necessidade de alimentar os numerosos pequenos Jacquard — era efetivamente conhecido pelo
nome de o Ladrão da Cidade. Ellery começava a sentir-se entusiasmado; era quase como voltar a casa.
A notícia do jornal dizia pouco mais do que isto. Toyfell e o seu estranho patrão tinham fama de
“brigar como cão e o gato”. Quando lhe perguntaram porque é que tinha ficado durante tantos anos
naquela triste ruína, tratando de um eremita excêntrico que (provavelmente) pouco ou nada lhe pagava
pelos seus serviços, Toyfell respondera com estas palavras profundas: “Também gostava de flores.”
Toyfell era um jardineiro exímio; fizera milagres no jardim de MacCaby, o único lugar onde havia vida
naquela casa, segundo se dizia, com estacas roubadas nas mansões de North Hill. O Gladíolo Gigante e
MacCaby era uma atração sazonal da loja de florista de Andy Birobatyan, na Rua Washington.
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